Monday, September 29, 2014

COMO ÓLEO E ÁGUA...PALANQUES E PÚLPITOS...

A questão é: religião e política se misturam?  Essa pergunta está em evidência, diante  do crescimento de igrejas que começam a assumir um papel político. No entanto, isso está criando uma situação desconfortável, uma vez que a atuação política de qualquer igreja acaba contrariando sua própria razão de ser.
A razão é simples: embora o poder da religião ou da fé tenha sido usado para manipular a massa ao longo da história humana, desde os tempos mais primitivos, o que sustentava essa relação era justamente a dicotomia.
Ora, a fé implica nas necessidades do espírito, da alma, do interior humano, em sua relação com o universo, dentro do conceito óbvio da vida e da morte, a grande incógnita da humanidade.
A política é carnal, prática, negociante da vida, nos interesses do meio. Lida com a coisa pública, os espaços externos da vida.
Por esse motivo, religião e politica mantiveram-se sempre como coisas distintas, mesmo que nos bastidores a atuação da política na religião ocorresse fartamente.
É claro que nem sempre isso ocorreu discretamente. Aquele que decidia a política também comandava a igreja, como nos tempos em que imperadores eram sagrados Papa. Nos tempos da Inquisição toda política passava pelas mãos da igreja, através dos inquisidores, que recebiam o poder máximo não apenas sobre o espírito humano, mas sobre seu  destino político.
Não só a religião foi usada para politica, mas a politica também interferiu no direito à fé individual. E temos o exemplo dos estragos dessa mistura.
O tempo passou, a humanidade mudou hábitos e crenças, mas a religião permaneceu como esteio no novo mundo, mais discreta em seu papel político.
Por outro lado surgiu o estado laico, que adotamos como base de respeito individual, mas também como linha divisória entre a fé, que varia as doutrinas religiosas, e a política.
Uma definição importante para evitar conflitos!
Padres e pastores salvam almas...ou fazem discursos sobre poder político? Em um país onde qualquer um pode fundar uma igreja, a situação se complica.
Como assim? Bem, se você quiser ser um pastor de sua própria igreja, não tem problema. Basta criar uma diretoria com seis cargos, com a vantagem de que pode acumular alguns. Basta uma casa e pronto, já existe a sede da sua igreja, que é considerada uma entidade sem fins lucrativos.
Foi exatamente assim que as igrejas foram se multiplicando e crescendo, principalmente as chamadas  evangélicas.
Longe de contestar sua validade, o que se pergunta é o seguinte: se uma igreja se baseia no "chamado divino" e a interpretação é disso é muito pessoal, de quem acha que foi chamado, até que ponto a sua verdadeira função não estaria sendo mal conduzida? A boa fé  e do desespero humano poderiam ser usados por grupos políticos, da mesma maneira que irmandades secretas que usavam rituais como disfarce para ações  de grande peso político?
É, é óbvio. O que não quer dizer que essa realidade seja devidamente analisada e compreendida pelas pessoas.
Religão, consideram muitos, seria uma grande ajuda para suprir os valores que se estão esvaziados na nossa sociedade, violenta e pouco ética...será mesmo que essa afirmação tem fundamento?
Não seria a filosofia a grande portadora do equilibrio humano?
Nesse ponto entramos em uma realidade insofismável: religião, doutrinas, crenças, rituais, enfim, tudo que envolve a questão da fé, nem sempre promovem a consciência humana. Ao contrário da filosofia, que discute a vida, a relação entre os seres e o universo, a lógica da ética e do respeito humano e à natureza.
No entanto, filosofia e religião entram em conflito. Como impor uma doutrina religiosa que exige obediencia a rituais de pensamento e ação, quando o indivíduo usa a mente e a sensibilidade para o pensamento livre?
Embora religião e política não combinem e provoquem extrema contradição, a filosofia e política promovem uma união muito favorável ao equilibrio de ações e pensamentos.
Um político pode ter o credo que bem entender. Através dele mostrará o que norteará as suas decisões para o conjunto.  Mas não deveria usar a influência obtida com a fé (que afinal não pertence a ele, mas a Cristo, no caso das igrejas evangélicas e, enfim,  à Deus no catolicismo) ou manipular esse poder da fé para ganhar votos.
Os tempos de Maquiavel vão longe. Que nada ameaça o nosso estado laico. (Mirna Monteiro)