Thursday, April 26, 2012

CONSUMIR OU NÃO CONSUMIR, EIS A QUESTÃO!

Dizem que nada melhor para a depressão do comprar, seja lá o que for, mas de preferência produtos que aumentem a auto-estima, como roupas, sapatos, cosméticos, perfumes...ou o mais recente lançamento eletrônico, um sofisticado home theater, ou aquele iPad com recursos incríveis.
O problema não é exatamente exercitar o consumo ocasionalmente, visando obter produtos que vão ter uma utilidade real. O problema, que vem sendo considerado grave, é o exagero do consumo e o excesso do descarte de produtos.
Mais do que um impulso, muita gente que vive uma necessidade de consumo de supérfluos, nem imagina que pode sofrer de um mal chamado oniomania. Que é isso?. É o nome de uma doença, que envolve a compulsão exagerada do consumo.
Imagine só! Quem diria que consumir em excesso é doença! e não simples questão de hábito, como gostar de música ou televisão...o tempo todo!
Consumidores compulsivos acabam na condição de acumuladores de produtos que se tornam supérfluos por falta de uso. Roupas que são guardadas e nunca utilizadas, objetos que envelhecem sem que a embalagem seja aberta. Consumir pode ser uma doença, quando ultrapassa a linha da necessidade da pessoa. Uma doença perigosa que transforma o planeta em uma lata de lixo com limites de armazenamento.
Quem resiste à tentação do último iPad, da enorme tv "HD", daquela bota sensacional ou aquele carro automático?...Infelizmente, a maior parte das pessoas apenas resiste ao consumismo excessivo quando o bolso não consegue comportar o sonho desse consumo. Mesmo quem não chega ao exagero, debatendo-se em meio aos cartões de crédito como no caso dos que sofrem de oniomania, nem sempre resiste a essa troca constante de produtos e objetos.
Por que motivo somos tão sensíveis a este tipo de apelo?
A história da civilização humana mostra que possuir bens sempre foi uma maneira de demonstrar superioridade nos tempos de grandes riscos de sobrevivência. Longos períodos de guerra ou de desastres climáticos que impediam a colheita necessitavam da garantia de bens para a troca ou negociação de espaços ou produtos escassos. O ouro comprava  o saco de batatas ou o milho aos quais a maioria não tinha acesso nos períodos de extrema penúria. Nos tempos de abundância, o possuir transformava-se no prazer do luxo e do supérfluo.
E hoje? Um produto não serve como garantia futura porque é feito para não durar. Carros, eletrodomésticos, móveis, tudo aquilo que o sujeito comprava antes da mentalidade dos supérfluos, transformou-se em produtos com data marcada para pifar, estragar ou desfazer-se.
Supérfluos tornaram-se uma especie de "atestado de boa vida".  Mas ao invés de segurança, oferecem uma condição oposta: nunca foi tão perigoso o hábito da ostentação.
Perdemos a medida entre o possuir simplesmente e a necessidade real de consumo!
A grande mola que desencadeia esse comportamento estranho e absurdo do compra-e-joga-fora é o poder de persuasão da mídia, que utiliza sem pudor técnicas de convencimento - como mensagens subliminares e a vitória da resistência pela repetição da ordem de consumo.
Pensando bem, qual a vantagem de chegar a um nível de adquirir coisas tão frenético?
Encontramos um exemplo claro da diferença entre o desejo e a sensação de estar de bem com a vida. Desejo é ansiedade por alguma coisa, que assim que for obtida, perde a graça, pois não permite a sensação de plenitude. É como comer alimentos que fornecem muita caloria e pouca nutrição, o que provoca "fome eterna" ou uma espécie de frustração, pois parece encher a barriga, mas não acalma a necessidade de comer.
Tudo que é novidade, é agradável. O cheiro de um carro novo, de uma geladeira recém-saída da fábrica, um traje com suas fibras impecáveis.
Mas para manter essa sensação teríamos de trocar o carro em alguns meses, a geladeira em algumas semanas e usar apenas uma única vez uma peça de vestuário, pois depois de lavada, já não seria mais a mesma!
Sob o ângulo de visão do desejo desse tipo de perfeição, até mesmo a realidade vivida em países de alta produção - onde adquirir um produto novo é mais vantajoso financeiramente do que arrumar o antigo (ou nem tão antigo assim) seria imperfeita. Pois não há velocidade suficiente para manter o novo, que fica velho assim que é adquirido!
O resultado da mentalidade do consumo é muito lixo. Produtos que deveriam durar dez, vinte anos, são programados para apresentar problemas em pouco tempo.
A mão de obra e as peças de reposição são caras demais, pois interessa ao sistema manter sempre a compra de novos produtos, que por sua vez vão para o lixo, pois já são de má qualidade no momento que saem das linhas de produção.
Imaginar que a economia mundial não sobreviveria sem esse desprezo ao homem e ao seu meio ambiente é o maior dos enganos. Essa mentalidade, que surgiu após a segunda guerra, com o Japão derrotado pela bomba nuclear assumindo uma rígida postura de produção, a tal ponto  que trabalhadores japoneses doavam parte de seu salário para a implementação dessa corrida ao consumo, é ameaçadora!
Com a introdução de um programa de qualidade total para ganhar o mercado mundial, o Japão recriou a economia moderna a partir dos destroços da guerra. Objeto de desejo dos EUA que foi plenamente alcançado poucas décadas depois.
Poderemos controlar tantos desajustes? Ao ter consciência de que trabalha para consumir e não para viver, a sociedade começa a questionar os exageros que estão trazendo mais prejuízos do que vantagens. É o momento de reciclar aquilo que temos em casa. Saquinhos de supermercado não fazem diferença na ecologia, mas o dia a dia da população em evitar excessos sim!
Trocar desnecessariamente o carro, a televisão, a geladeira, enfim, o sofá ou a mesa de jantar, definitivamente, está fora de moda. A ordem é reciclar, renovar, recriar, criando evidentes vantagens não apenas para o bolso e o meio ambiente, mas para a própria segurança: a mentalidade do descartável afeta o respeito à vida. que se torna banal em meio a tanto descarte! (Mirna Monteiro)

Thursday, April 12, 2012

O QUE FAZER DA SEXTA-FEIRA 13

É de tremer nas bases imaginar aquele sujeito degringolado, com uma máscara de plástico, perseguindo as pessoas na série "Sexta-feira 13". Desde 1980 foram 12 filmes de terror com essa personagem e uma geração inteira de assustados com a data fatídica, que no entanto já era considerada complicada há séculos ou talvez milênios. Muito antes do tal de "Jason", o mascarado da ficção que inferniza as telas de cinema. Ou dos inúmeros outros "Jasons" que surgiram no rastro desse predador ficcional, mas nem por isso menos maligno!
Com ou sem essas cenas, esse dia sempre foi interpretado de maneira depreciativa. Já alguns dias antes as pessoas ficam preocupadas com a sexta-feira 13. Uns reclamam que já na véspera - ontem - começaram a dar topadas e machucar o dedão, perderam a hora do dentista e uma restauração despencou, que o pneu do carro furou e "alguma coisa está esquisita"...ainda que seja devido à azia provocada pelo abuso do "fast food" de quinta-feira, dia 12...onde também se machuca o dedão e se perde duas horas no trânsito endemoniado das marginais e avenidas.
De qualquer forma, estranha a escolha de duas datas que separadas não impressionam ninguém. Muito pelo contrário, sexta-feira é o dia mais aclamado da semana, considerado a linha divisória entre a responsabilidade do trabalho e as delícias do descanso. O número 13, por outro lado, tem má fama injusta, pois é considerado número da sorte em diversas culturas.
Há algumas explicações para a escolha da sexta-feira 13 como dia complicado, Lendas nórticas contam que Loki, deus do fogo, aproveitou um encontro de doze deuses para conturbar o ambiente e ferir o deus solar Baldur, favorito de Odin, o deus dos deuses. Naturalmente ele, Loki, era o décimo terceiro.
Mas a história de que reunir 13 pessoas não dá muito certo também pode ter tido origem na Escandinávia, que exilou a deusa da fertilidade e do amor, Frigga, no alto de uma montanha, durante a conversão ao cristianismo  de tribos norticas. Frigga passou a reunir-se com outras 11 bruxas e, dizem as más línguas, o demônio. O que irritou as pessoas, que passaram a considerar a sexta-feira 13 um dia maligno!...Frigga, aliás, originou o nome sexta-feira no calendário romano, que no final das contas apenas chegaria à outros lugares, como a Inglaterra, no século V, com sua semana de sete dias.
Bobagem explicar isso. Para os crédulos, a sexta-feira 13 está acima de cronologias e do desenrolar da história. É um dia cercado de mistérios e de energias conflitantes, simplificadas na forma de superstições.
Ainda assim, talvez a melhor explicação esteja o fato de que a sexta-feira era um dia consagrado à deusa, ou ao feminino. Em uma sociedade que se tornava masculina e patriarcal, esse dia passou a ser mal visto.
Ah, há muitas outras histórias rondando a sexta-feira 13. Nenhuma tão horrível como o tal do Jason dos anos 80 do século XX, mas também com cores dramáticas, como a caça aos templários, que teria sido ordenada  por Felipe IV em 13 de outubro de 1307.
Como sabemos, sexta-feira é um dia bem quisto normalmente e o dia 13...ora, na numerologia o 13 transforma-se em 1+3= 4...quatro significa potência e constância, o percorrer passo a passo o caminho! Há 4 estações do ano, a lua tem 4 fases, agua, terra, ar e fogo são os 4 elementos que permitem a vida!
Melhor que isso impossível. Não, tem mais sim: hoje, dia 13 de abril, é o Dia do Beijo!
Que seja uma boa sexta-feira 13! (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM:
http://artemirna.blogspot.com.br/2011/04/o-beijo-como-expressao-do-sentimento.html

Wednesday, April 11, 2012

CRÍTICA DA LOUCURA

Erasmo, falando em nome da Loucura: "Vê-se claramente que
o homem não nasceu para gozar aqui na terra de uma
felicidade perfeita".
Hoje e há 500 anos atrás as mesmas críticas da Loucura 
Os loucos são mais felizes? Depende do tipo da loucura, certamente. "Os loucos receberam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender ninguém. Príncipes  riem-se de todo o coração quando um tolo lhes diz coisas que seriam mais do que suficientes para enforcar um filósofo"!
Palavras da própria "Loucura". Afinal apenas quem é louco defende verdades que podem se voltar contra ele mesmo ou seu conforto.
Os sábios tem duas línguas, uma para dizer o que pensam e outra para falar conforme as circunstâncias, já dizia Eurípedes.
Falar aquilo que se pensa é uma condição rara. Os motivos variam, passando de interesses políticos e pessoais até a omissão gentil ou piedosa, onde a trava na língua é motivada por consideração ao próximo. A extrema sinceridade nem sempre pode ser aceita ou digerida, mesmo porque nem sempre é a representação da verdade, mas simplesmente uma interpretação que pode mudar sob luzes mais intensas do que o pensamento de quem a concebe.
É o caso da crítica certamente. Não falamos simplesmente da argumentação que tenta mostrar a beleza ou as falhas de determinada obra de arte, de uma peça de teatro ou um filme. Falamos da visão crítica da vida e da sociedade. "Glauco enalteceu a injustiça, o filósofo Favorino louvou Tersides e a febre quartã, Sinésio a calvice e Luciano a mosca parasita", argumenta Erasmo de Roterdam (ou Rotterdam), que de Geraldo passou a Desidério Erasmo, antes disso. Afirmações e opiniões não são necessariamente verdade ou observações construtivas, muito pelo contrário.
Quantas besteiras afirmamos pensando que são verdades!
Sob essa ótica, a observação crítica deve passar pelo crivo da imparcialidade do pensamento, o que é muito difícil. Daí a necessidade de certa dose de audácia ou loucura, que acabou gerando as idéias de Erasmo, que ainda hoje, mais de quinhentos anos depois, ainda cabem perfeitamente como crítica à sociedade! Em seu "Elogio à Loucura", mostra bem o quanto podemos ser ridículos e confusos na ansiedade em criar uma normalidade aparente.
A "Loucura" de Erasmo de Roterdam é independente, despeja suas considerações e interpretações sem que o autor assuma sua autoria ("não sou eu, mas "ela" quem fala, a loucura dos homens" ). É extremamente bem humorada, sarcástica e cruel.
"Nunca terei louvado bastante a Pitágoras por ter se transformado em galo. Esse filósofo, em virtude da metempsicose (vou interromper aqui para lembrar que metempsicose teria origem na alma humana que também habitaria outros seres vivos, tipo reencarnações) passou por todos os estágios: filósofo, homem, mulher, rei, confidente, peixe, cavalo, rã e creio até que esponja. E depois de todas essas transmigrações declarou que o homem era o mais infeliz dos animais, pois todos estão satisfeitos em ficar nos limites prefixados pela natureza, enquanto só o homem se esforça para ultrapassa-la"
O que, segundo a Loucura, dá uma imensa dor de cabeça aos seres humanos, que ao renegar a natureza tal como ela é, vivem em desarmonia e terror, com medo da vida e da morte e envoltos na infelicidade da ciência fabricada.
Vamos a algumas considerações da Loucura de Erasmo:

PODER -  Não posso deixar de lastimar a sorte dos príncipes. Oh, como são infelizes! Inacessíveis à verdade, só contam com a amizade de aduladores (...)Por que os príncipes detestam a companhia de filósofos? Ah! Bem vejo que isso se deve ao medo que os príncipes tem de encontrar  entre os filósofos algum petulante que se atreva a dizer o que é verdadeiro e não agradável"...

O POLÍTICO - Observemos em que consistem as obrigações de um homem que é posto à testa de uma nação. Deve dedicar-se dia e noite ao bem publico e nunca ao seu interesse privado; pensar exclusivamente no que é vantajoso para o povo; ser o primeiro a observar as leis de que é autor e depositário, sem desviar-se nunca de nenhuma delas; observar co firmeza, com os próprios olhos, a integridade dos secretários e dos magistrados; não esquecer nunca de que os vícios e os delitos dos seus súditos são infinitamente menos contagiosos que os do senhor(...)...

O BOBO - Dizemos ser louco todo aquele que, sendo curto das vistas, toma um burro por um jumento ou que por ter pouco discernimento, considera excelente um mau poema. Ao mesmo tempo quando um homem comete um estranho erro, não só de senso, mas também de inteligência, nele persistindo longamente - por exemplo, ao escutar o zurro de um burro, julga ouvir uma sinfonia.

O LOUCO - A loucura é bem mais espalhada do que em geral se pensa. As vezes é um louco que se ri de outro louco, divertindo-se ambos mutuamente.

RELIGIÃO - Outra espécie de extravagantes é constituída pelos que confiando em certos sinais externos de devoção, em certos palanfrórios, em certas rezas que algum piedoso impostor inventou para se divertir ou por interesse, estão convencidos de que vão gozar de uma inalterável felicidade, conquistar riqueza, obter honra, satisfazer determinados prazeres, viver longamente e levar uma velhice robusta e, como se isso não bastasse, ainda esperam ocupar no paraiso um posto elevado(...) Tempo de voar entre as inefáveis e eternas delícias do céu, uma vez abandonados pelos bens na terra, aos quais se aferram de todo o coração.

PERDÃO DIVINO - Persuadidos dos perdões e indulgências, ao negociante, ao militar, ao juiz, basta atirarem a uma bandeja uma pequena moeda, para ficarem tão limpos e puros dos seus numerosos roubos como quando sairam da pia batismal...Quem já terá visto homens mais tolos que julgam que entrarão infalivelmente no reino dos céus recitando todos os dias sete versículos que eu não sei quais sejam (...) No entanto, foi um demônio quem fez tão bela descoberta: mas um demônio tolo, que tinha mais vaidade do que talento(...).

RELATIVIDADE - Se um esfomeado come carne podre, cujo fedor obrigaria outro a tapar o nariz, se ele a come com tanto gosto como se se tratasse do alimento mais fino, eu vos pergunto se por isso devce ser considerado menos feliz. Ao contrário, se um enfastiado comesse iguarias e em lugar do seu gosto sentisse náuseas, onde estaria nesse caso a sua felicidade? Para um homem que tem uma mulher feissima, mas na qual vê perfeitamente a sua bela, não é o mesmo que se tivesse desposado uma Vênus?

EGOÍSMO TOLO - Ora, é impossível gozar um bem quando se está sozinho.

SABEDORIA  - Os sábios são em numero tão escasso que nem vale a pena falar deles, e eu desejaria mesmo saber se é possível descobrir algum. No curso de tantos séculos, a Grécia se vangloria de ter produzido apenas sete sábios. É na verdade maravilhoso! O gênero humano deve mesmo muito a essa felicidade da Grécia! Foram mesmo sete?

O VINHO -  ...Consiste em tirar  e dissipar do ânimo dos mortais as aflições, as inquietações e a tristeza, perversas filhas da razão: mas por pouco tempo, porque depois de algumas horas de sono, voltam a atormentar-nos imediatamente e, como se costuma dizer, a todo galope. Não será isso inteiramente o oposto do bem que eu proporciono ao mortais? Minha embriaguez é muito diferente da de Baco: enche a alma de alegria, de tripúdio e de delícias, dura até o fim da vida e não custa dinheiro nem dá remorsos...

HIPOCRISIA - E que coisas estranhas não se dizem e fazem quando morre um parente próximo? Chega-se ao ponto de pagar pessoas que finjam chorar e gesticulam como cômicos. Quanto  maior é a alegria experimentada no coração, tanto maior é a tristeza que o rosto aparenta, o que deu origem ao provérbio grego: chorar na sepultura da madrasta. Este tira o quanto pode, seja de onde for, e dá tudo de presente à própria barriga, com o risco de morrer de fome depois de satisfeita a gulodice. Aquele que põe toda a sua felicidade no ócio e no sono.

AGIOTAS - os negociantes, sobretudo, são os mais sórdidos e estúpidos atores da vida humana: não há coisa mais vil do que a sua profissão e, como coroamento da obra, exercem-na da maneira mais porca. São, em geral, perjuros, mentirosos, ladrões, trapaceiros, impostores. No entanto, devido a sua riqueza, são tidos em grande consideração e chegam a encontrar frades aduladores, que lhes fazem humildemente a corte e publicamente lhes dão o nome de veneráveis, a fim de lhes abiscoitar uma parte dos mal adquiridos tesouros.

ESCRITORES- Todos esses escritores tem parentesco comigo (a Loucura) sobretudo quando só escrevem coisas insípidas. Quanto aos autores que só escrevem para poucos, isto é, para pessoas de fino gosto e perspicazes, confesso-vos ingenuamente que merecem mais compaixão do que inveja.
Mas falemos agora de um autor que escreva sob meus auspícios e do qual seja eu a Minerva. Não conhecendo a meditação nem a tortura do cérebro, nem as vigílias, escreve tudo que sonha, tudo que lhe vem à cabeça. (...) Quem poderá negar que esse homem seja verdadeiramente feliz?

PLAGIADORES - Os plagiadores que com suas facilidades se apropriam das obras alheias, gozando da glória que aqueles dos quais eles a roubaram conseguiram com imensa dificuldade. (...) Esses nomes - por Júpiter imortal! - não tem significação alguma. Considerando-se toda a vastidão da terra, pouquíssimos são os que os louvam, não sendo muito diverso dos dos ignorantes o gosto dos sábios.

ADVOGADOS - Pretendem os advogados levar a palma sobre todos os os eruditos e fazem um grande conceito da sua arte. Ora, para vos ser franca, a sua profissão é, em última análise, um verdadeiro trabalho de Sífiso. Com efeito eles fazem uma porção de leis que não chegam a conclusão alguma.
Que são o digesto, as pandectas, o código? Um amontoado de comentários, de glosas, de citações. Com toda essa mixórdia, fazem crer ao vulgo que, de todas as ciências, a sua é a que requer o mais sublime e laborioso engenho. E como sempre se acha mais belo o que é mais difícil, resulta que os tolos tem alto conceito dessa ciência.

SUPERIORIDADE- Vejamos, agora, os bobalhões dos estóicos, que se reputam tão próximos e afins dos deuses. Mostrai-me apenas um, dentre eles, que mesmo sendo mil vezes estoico, nunca tendo feito a barba, distintivo da sabedoria (se bem que tal distintivo seja também comum aos bodes) precisará deixar seu ar cheio de orgulho (...) Ora meus senhores, o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. (...)

"Ecomium Moriae" foi publicado em Paris em 1509, sobreviveu por séculos e recebeu o título de "Elogio da Loucura" quando foi traduzido no Brasil.  Apesar das críticas ferozes a toda forma de hipocrisia, a obra demonstra que as qualidades e erros humanos independem da época e da cultura, deixando entretanto em aberto a transformação das idéias através da comunicação. Considerando, é claro, a persistência da razão que em tempos de mediocridade pode ser interpretada como loucura... ( Mirna Monteiro)