Tuesday, January 31, 2012

A ARTE DE ACREDITAR...SEM ENGANAR-SE


Volta e meia aparece a dúvida: em quem acreditar? No que acreditar? A insegurança sobre a verdade não é característica de pessoas jovens, assim como a certeza não é privilégio de quem viveu muitas décadas.

Sob essa ótica (verdadeira?) estamos todos no mesmo barco, o da incerteza sobre as coisas e isso pode ser angustiante! Nietzsche, ele próprio exasperado com as próprias dúvidas em uma época onde tudo era contestado de maneira extremamente econômica, concluiu que a busca da verdade não passava de simples necessidade humana de se sentir em segurança.  Um mundo que "não se contradiz", seria um mundo mais confiável, com conceitos baseados na crença de valores imutáveis e, portanto, aceitos como verdade universal. 

Bem, de qualquer forma nós temos nossas verdades universais. Por exemplo a igualdade entre os homens e o respeito à natureza. Naturalmente são verdades óbvias oriundas da necessidade de sobrevivência, entre outras que surgem da relação histórica do homem com o meio. 

O que sabemos é que o reconhecimento da verdade, ou de alguma realidade que possamos assumir como determinante, parte de nossa capacidade de sentir a vida. O conhecimento sobre si mesmo modifica o reconhecimento da verdade. E como acreditava Sócrates, só age erradamente aquele que desconhece a verdade e, por extensão, o bem. Nesse caso permanece boiando na incerteza, ou esperneando se assim lhe ditar o temperamento, mas em ambos os casos provocando desequilíbrio e caos ao meio. 
 Como mestre que pretendia ensinar a pensar, sem impor uma verdade do próprio punho...ou do próprio pensamento, Sócrates colocava a  busca do saber como o caminho para a perfeição humana e, por tabela, para obter a sensação de segurança que permite um enfrentamento mais tranqüilo de nossas dúvidas a respeito do que seria a verdade e a mentira.
Bem, 400 anos antes de Cristo e já se sabia o que hoje ainda constatamos. Por mais que seja teorizado o assunto e por mais que os pensadores sejam rebuscados e retóricos, realistas, fatalistas ou neuróticos, a verdade é que o drama do "onde está a verdade", resume-se a esta simples lógica socrática: observe, pense, aprenda e deduza!

Se a verdade necessita de sabedoria para ser detectada, a mentira basta a si própria, infelizmente. A sorte da humanidade é que seu tempo de vida é curto. Por isso devemos considerar a sabedoria popular, quando diz que "toda mentira tem perna curta". Aliás todos temos sempre uma boa interpretação da mentira. Rápida como o bote de uma cobra (uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir, ironizou Churchill) ou vital para a sobrevivência de alguns (A mentira é muitas vezes tão involuntária quanto a respiração, observou acertadamente o escritor Machado de Assis) a mentira é o avesso do conhecimento sem deixar de ser ilustradora da verdade (não ser descoberto em uma mentira equivale a dizer uma verdade...)

É nessa relatividade que se apoiam os grandes mentirosos da humanidade, antigos e atuais. Hitler achava que para convencer a massa era preciso uma grande mentira, cercada de muita bagunça e atritos, pois assim o caos formado esconderia ainda mais a verdade. Tinha razão, sem dúvida! É óbvio que para se conseguir impor uma mentira há necessidade de se impor o caos e a insegurança...aquele estado citado por Nietzsche, onde as convicções podem ser mais perigosas para a verdade do que a própria afirmação mentirosa! 
Acreditar, portanto, parece ser a arte de desvendar o que se passa atrás das grandes afirmações, das grandes mentiras e das supostas verdades. Uma arte que começa com o conhecimento do temperamento humano que habita em todos nós e o reconhecimento de nossas fraquezas. (Mirna Monteiro)

Wednesday, January 25, 2012

Acariciando o coração

Descobriram que o coração possui algumas dezenas de milhares de neurônios. Parece pouco diante dos 100 bilhões de neurônios calculados no cérebro humano, mas é suficiente para uma avaliação maior na relação entre comportamento e emoção, assim como de fatores fisiológicos como estresse e riscos cardíacos.
O coração tem capacidade de pensar? A ciência não se atreve a afirmar isso, embora venha reconhecendo que estados de tensão, tristeza, depressão, de fato influenciam a saúde humana. De onde podemos deduzir que o coração humano está "equipado" para sentir.
Morrer de tristeza, um termo usado antes mesmo que a ciência soubesse muito sobre a fisiologia humana, parece ser verdadeiro. Joseph Chilton Pearce, autor de "A biologia da Transcendência", refere-se ao coração como um orgão de sabedoria inata do amor, Sem ele o ser retroage ao primitivo, permitindo que o Ego assuma o controle e a mentalidade de sobrevivência baseada no medo, na ganância, poder e controle.
Essa situação levaria à sensação de solidão e isolamento da natureza, enquanto que a capacidade de "sentir o coração" e liberar os sentimentos positivamente leva a uma maior inteligência emocional e capacidade de lidar com a vida.
De certa forma, mesmo negligenciando o coração, persiste a sensação de vazio e a necessidade de buscar uma compensação. Talvez seja esse o motivo que leva as pessoas a buscarem conforto, as vezes renegando a própria realidade.
Isso pode ser observado nos sites de relacionamento, que foram criados para interagir, adaptando-se ao longo do tempo a muitas funções diferentes. Namoro, casamento ou simplesmente sexo, discussões sobre assuntos proibidos ou dificilmente assumidos no mundo real, denúncias e discussões políticas. Tudo aquilo que integra a realidade imediata, mas que acaba se perdendo na falta de contato das pessoas ou na dificuldade de relação com a mídia, acaba se desdobrando no mundo virtual.
Mas o interessante é que a maioria das pessoas não pretende discutir grandes problemas nos sites de relacionamento.Não pretendem "martelar a mente", mas sim acariciar o coração, ou seja, manter contatos leves, que absorvam a tensão da realidade do dia a dia. O mundo virtual serve de repouso, quando as conversas são leves e as palavras trocadas são de incentivo, positividade e alento.
Não há como criticar esse desejo. Todos necessitamos de momentos paz e repouso. Em uma realidade cada vez mais drástica - onde os problemas parecem brotar como erva daninha, não por serem recentes, mas pelo fato dos disfarces que os escondiam não mais funcionarem, o estresse aumenta.
O que não quer dizer que a realidade possa ser evitada. Mas a racionalidade pode ( e deve) conviver com o bom humor, a leveza e a gentileza. Talvez a representação das duas faces da realidade, cérebro e coração, racionalidade e sentimento não seja simples metáfora, mas pura ciência. (MM)

Monday, January 09, 2012

A MORTE E A LÓGICA IRRACIONAL





Lógica, ilógica...deixando e lado a teoria das idéias, onde se pressupõe o que seria admitido como realidade ou engano dos sentidos, a morte seria uma realidade incontestável, pois é óbvia e ao mesmo tempo impossível de ser razoavelmente definida, a não ser em nossa percepção física.
Isso é muito desconfortável!
É muito pouco provável que a morte seja desconfortável para quem a enfrentou. É complicado imaginar as possibilidades além da vida, mas digamos que, na pior das hipóteses (sob a ansiedade dos que se recusam a aceitar a finitude), os seres se apaguem como uma lâmpada, sendo "nada".
"Nada" é nada, puft!
...Mas a energia obtida pelos filamentos da lâmpada está por aí...



Vamos analisar uma possibilidade científica, a de que no universo tudo é matéria, inclusive nosso pensamento ou nossa consciência. Nesse caso não pode ser ruim para quem morreu, pois se morreu em seu estado físico mais grosseiro (ou para quem quiser complicar, de material molecular acumulado e pesado, próprio para um planeta primitivo... ou o que?) sobrevive em seu estado quântico e, portanto, deve poder passear pelas dimensões do tempo ou por espaços que bem podem ser algo que interpretamos como paraíso.
Vamos divagar e aceitar as possibilidades que historicamente povoam as crenças do ser humano, desde sua forma mais primitiva, até as culturas que pretendem ser sofisticadas.

Digamos que haja espaços pré-determinados para as almas, de um lado as penadas, de outro as que cumpriram o bem, como na alegoria do inferno e do céu. Também nada poderá ser mais oportuno. Pois se quem amamos tanto é uma boa alma, decerto que irá para um espaço privilegiado, onde diferentes crenças comungam que é bem mais agradável do que aqui. E se boa alma não for, não há pelo que chorar se a morte representar um tipo de enfrentamento desconfortável...ou, quem sabe, o "puft!", ou o vazio total e irreversível...
Aparentemente, preocupar-se com a morte parece ser desnecessário. Ao contrário, preocupar-se com a vida, é fundamental! É por ela que devemos lutar, com unhas e dentes e é ela, a vida, que devemos respeitar. Toda e qualquer forma de vida deve ser respeitada.
Sendo isso inquestionável, chegamos a um acordo: a vida é tão importante, enquanto vida, que pode ser interpretada como o antagonismo da morte, o que não representa uma verdade. Por que? Ora, sabemos o que é vida! Não sabemos o que é a morte! Tudo que se sabe sobre a morte é conjectura e torna esta discussão extremamente chata.
Mas certamente esquecemos um fator de peso: o medo do desconhecido. Não é a morte em si, mas o que é provável a partir dela que a torna tão temida. Para amenizar isso não há remédio, a não ser a própria vida. Quando plena e valorizada, fornece uma espécie de coragem para enfrentar o que quer que a morte signifique. É como uma fusão com o universo. Os ateus e agnósticos mais radicais ficam furiosos com essa possibilidade, pois ela reforça a teoria do divino, pois reconhece uma força onipotente entre big-bangs e buracos negros. Uma força natural que pode não ser consciente, mas que é interdependente de todas as matérias e suas variações no mundo quântico.
É, esta discussão vai longe. Segue pela vida e além da morte! Porque pelo que se sabe, todos vamos, de mente aberta ou cara emburrada.  E em uma rotina semelhante outros aqui ficam, repetindo o mesmo questionamento de outros que virão!...(Mirna Monteiro)