Tuesday, December 27, 2011

UM ANO COMPLICADO

Uma das coisas mais interessantes do final de um ano é a sensação de um certo alívio. Algo assim como ser atendido depois da espera em uma longa fila ou a idéia de "dever cumprido" depois de um dia de trabalho exaustivo...quem sabe um sentimento dimensionado pela perspectiva de que algo está acabando, mas para dar lugar a uma nova oportunidade de inicio, Se possível com "pé direito" bem posicionado e calculado!  
Nenhuma crítica a respeito. Todos dependemos de novas chances e oportunidades para reciclar a rotina, caso contrário a vida seria chata. Uma rotina eternizada. Mário Quintana enalteceu acertadamente essa "jogada do calendário", chamando-a de "truque bom", seja na segunda-feira, no primeiro dia de cada mês ou em cada novo ano. "O bom é que nos dá a impressão de que a vida não continua, mas recomeça"...
Detalhes do calendário não importam muito, desde que obedeçan ao ciclo de renovação. O calendário romano já teve dez meses quando introduzido por Rômolo, depois dias elásticos no calendário grego. Pouco importaram essas diferenças, porque o objetivo era definir o nascimento de uma fase, seu amadurecimento, seu final e seu renascimento. 
Truque, coincidência ou inspíração, a verdade é que funciona. Final de ano é pura festa, como os rituais da antiguidade, que decerto ficaram embutidos em cantos da memória humana. É preciso se despedir do ano que passou em grande estilo, passando uma borracha na alma e recriando a expectativa de que os fracassos podem ser transformados em sucesso e os erros em acertos.Principalmente em tempos onde as pessoas ficam surpresas com a velocidade dos dias. "Este ano já ficou velho? Caramba, parece que janeiro foi no mês passado!"...
Mesmo que a sensação seja de encolhimento do calendário, é preciso se programar para a renovação! E vem as famosas listinhas. Que este ano serão interessantes. Afinal 2012 é o ano em que alardeia-se o fim do mundo, lá para os idos de dezembro.
Bem, sem pânico! Se assim for, ainda teremos todos os meses do ano para cumprir com as promessas de ano novo. Talvez, para garantir, elas tenham que ser finalmente cumpridas. Supondo que o mundo acabe realmente em dezembro de 2012. De qualquer forma  será interessante iniciar 2013 com a agenda cumprida. Seria algo assim como finalmente cumprir com uma determinação que se dilui ao longo dos meses e termina de novo no topo da lista do ano seguinte.
Antes prevenir do que remediar. No final das contas teremos afinal um ano realmente inusitado e com perspectivas de se realizar as coisas sempre adiadas. O que torna este ano que parece complicado em um momento especial no velho modelo do calendário! (Mirna Monteiro)

Thursday, December 15, 2011

ALÉM DAS VASSOURAS, BALDES E ESFREGÕES

As aparências enganam. Não é um anúncio de material de limpeza. Trata-se, pelo contrário, de um grave problema que é relegado a armários de lavanderias e quartinhos de despejo de residências familiares e que no entanto determina o movimento da sociedade, suas conquistas culturais, econômicas, políticas, sociais...
O que tem a ver vassouras com tudo isso? Bem, não há necessidade de se falar especificamente em vassouras...podemos substituir pelo aspirador de pó, por maquininhas a vapor que tiram o limo de paredes e piso e ainda substituem o ferro de passar roupa. Ou trocar detergentes por tijolinhos de sabão quando a louça suja vai para uma máquina ao invés de cumular-se em um pia...ainda assim, o que teriam essas visões aterrorizantes e meramente domésticas com as importantes decisões políticas, econômicas e sociais?
A concepção do trabalho sempre esteve ligada a uma visão negativa. Aos nobres cabia a política, aos escravos o trabalho duro. Quando a escravidão foi abolida, o trabalho foi classificado em "importantes e nobres" ou em "menores e sujos". 
Os gênios da humanidade passavam a vida enfurnados em pesquisas e inventos, os serviçais lavavam suas vestes e limpavam a bagunça de seus experimentos. 
Homens e mulheres também sempre tiveram sua divisão de responsabilidade. Ao homem cabia qualquer trabalho, ainda que pouco nobre, desde que não fosse em sua própria área doméstica, o que já atingiria uma qualificação pejorativa. 
À mulher cabia comandar a área doméstica e gerenciar os serviçais. Conforme a sociedade foi evoluindo, já no século XX, surgiu a empregada doméstica, também pouco valorizada porque estaria qualificada apenas para "limpeza geral, culinária e funções afins". A sociedade evoluiu mais um pouco, dimensionou a qualificação feminina. Lidar com política mundial, com pesquisas de células-tronco ou qualquer trabalho executivo é mais fácil do que enfrentar a rotina doméstica. Por outro lado chegar ao lar depois de um dia de trabalho duro e de um trânsito infernal e encontrar, digamos, a dinâmica interior desembestada, (tradução - casa bagunçada), pode provocar síndrome do pânico...inversa, ou seja, ao invés de ter medo de sair a pessoa terá pavor de permanecer dentro da casa!
E então...onde foi parar a empregada doméstica?
Ninguém quer saber do trabalho doméstico. Contraditoriamente, quem aceita esse trabalho ganha mais do que um motorista, balconista ou inúmeras outras profissões que vivem repletas de candidatos ansiosos por colocação e que não oferecem tantas vantagens. 
É o estigma do ambiente doméstico. Alguns interpretam as funções como "herança da escravidão". E no entanto elas integram uma realidade gritante, cotidiana, óbvia, que não tem a ver com a fase negra da história humana, fosse na Grecia antiga, fosse no Brasil colônia. Tem a ver com louça amontoada na pia, poeira no chão, roupa suja no cesto, banheiros malcheirosos e quintais com cocô de cachorro!
Se nesta fase da civilização humana, em um mundo que desvenda a engenharia genética e usa tecnologia espacial, alguém disser que serviço doméstico é bobagem, é porque vive em flats ou boiando em algum espaço dimensional repleto de serviços prontos e disponíveis, acessível a um percentual tão pequeno da população mundial que nem vale como exemplo.
Alguns países resolvem de maneira prática a dura realidade da importância do serviço doméstico (que afinal pode deixar maluco qualquer gênio da matemática quando descobre que esgotaram-se nas gavetas as cuecas limpas!). 
Como o Japão! A questão da limpeza da casa fica solucionada ao reduzir o espaço físico, para um metro quadrado por cabeça...é só assoprar em torno, nem precisa de aspirador de pó. Além, disso, detentores de uma tecnologia genial, os japoneses estão conseguindo construir robôs que chegam à perfeição de andróides e que dominam o conhecimento dos afazeres domésticos. Com a vantagem de serem permanentes (enquanto o chip funcionar, claro) e não fazer chantagem emocional comum às raríssimas pessoas que ainda trabalham com limpeza doméstica em residências e que são realmente cada vez mais paparicadas e elevadas à condição de "alfa"! Quem manda aqui? Claro que é você, a secretária do lar...porque para algumas pessoas dizer que tem uma "empregada doméstica" é considerada ofensa. Absurdo, quando todos sabem que toda família depende de um lar e que todo lar exige uma dinâmica que, subtraída, transtorna a vida da sociedade.
Bem, que venham logo os robôs...(MM)

Tuesday, December 06, 2011

A TAL FELICIDADE

Fim de domingo, encontro com algumas pessoas que não via há muito tempo, todas elas diferentes, idades variadas, interesses opostos e desconhecidas entre si, mas com alguma coisa em comum: uma nostalgia surpreendentemente descrita com as mesmas palavras. "Não sei explicar, mas entardecer de domingo sempre me deixa meio "deprê" (depressivo)...
É mesmo uma coincidência! Ou não? Afinal, o que é que tem de diferente o final de um domingo em relação a outro dia qualquer? A expectativa da segunda-feira, talvez?
- É, pode ser sim, só de pensar em enfrentar aquele trânsito de novo, pô meu, ninguém merece...
Foi esta uma das respostas. Pensei sobre ela. Poderia ser uma explicação, já que na sexta-feira a situação se inverte. Todo mundo adora uma sexta-feira, muito mais do que o sábado ( engraçado isso). Mas se assim é, por que pessoas que não trabalham na segunda-feira também parecem sentir essa "síndrome nostálgica" do fim de domingo? O problema seria a expectativa?
Essa expectativa parece ser o "calcanhar de Aquiles" da humanidade. Pretende-se sempre esperar que tudo se conserte, que as emoções se organizem e que surjam fatos que permitam a todos atingir subitamente a felicidade. Mas nenhuma situação ou emoção surge "do nada". Tudo que existe tem uma origem e um desdobramento.
Entende-se por felicidade o absoluto bem estar físico e mental. Tão absoluto que para grande parte das pessoas esse momento ideal acaba tornando-se inacessível, boiando em alguma montanha escarpada ou flutuando sobre abismos imensuráveis. 
- Felicidade não existe! - garantiu alguém - Esse negócio de felicidade só estraga, tem gente complexada, revoltada, odiando o mundo, por achar que foi discriminada pela vida, se aprender que é tudo ficção vai ser melhor.
A expectativa acaba tomando a forma de desdém, como na fábula da raposa e das uvas. Para que me preocupar com aquilo que não posso ter e que por esse motivo pode não existir? 
Pensamentos azedos demais para uvas que vão amadurecer um dia e que podem ser mais doces do que nossa imaginação supõe. Se a raposa não tivesse tamanha ansiedade e expectativa em alcançar as uvas que parecem inacessíveis, teria a oportunidade de provar sua doçura ainda que o peso dos cachos maduros vergassem até ela. 
A tal felicidade, que tantos desejam e outros tantos desdenham por não a conceber, é mais acessível do que imaginamos, se prestarmos atenção ao fato de que ela não é um pontinho flutuante, mas simplesmente um espaço dentro de nossa própria consciência, geralmente espremido e reduzido pelo excesso de expectativas e ansiedades superficiais que tomam nosso tempo e embotam nossos sentidos.
Tanto isso é verdade que quanto mais superficial o mundo se torna, maior é a quantidade de antidepressivos e outras drogas ingeridos pela humanidade. Para alegria ( seria a tal felicidade?) da industria farmacêutica e dos laboratórios de manipulação.
O "conhece-te a ti mesmo" que mantém-se moderno há alguns milhares de anos, pode ser a origem da felicidade, pois obriga a mente a trabalhar em sintonia com o mundo das idéias e não o mundo do consumo de carros milionário e mansões que supõem-se ser o passaporte para se atingir status e estado de absoluta felicidade. 
Será que quando possuímos mansões, carrões e bilhões, espantamos de vez aquela nostalgia e a ansiedade de ser feliz? Uma pesquisa que cruzou o PIB (a riqueza gerada por cada país) das maiores economias do mundo com o chamado índice de Gini, que mede a desigualdade social e tentou estabelecer com base nesses dados o índice de satisfação com a vida mostrou que nem sempre riqueza e menor desigualdade são sinônimos de felicidade. Aliás o Brasil registrou um índice de satisfação com a vida muito maior do que outros países mais ricos.
O que podemos constatar? Que a tal felicidade é relativa, pois envolve fatores subjetivos. Qualidade de vida, no entanto, parece ser fundamental para a felicidade, mas não necessariamente o dinheiro, ainda que o dinheiro possa ajudar a se obter melhor qualidade de vida. Mas o conhecimento, a saúde, a capacidade de enfrentar os desafios da vida com bom humor e tolerância, a sabedoria para transformar subjetivos fracassos em bem sucedidas experiências, o respeito ao meio e a capacidade de integração à natureza são fatores considerados preponderantes para um indivíduo sentir-se bem. Ou feliz! (Mirna Monteiro)