Tuesday, November 29, 2011

NATAL PROLONGADO

Já em final de outubro o comércio começa a apresentar vitrines natalinas, em novembro muitas famílias enfeitam a casa e montam  a arvore de natal. Podemos entender o comércio: quanto maior o prazo para as vendas antes do pico, maior tranquilidade para vender o estoque. Mas e as famílias? É bom ou nem tanto "esticar" o Natal?
Parece ser bom. A ansiedade do comércio não é a principal razão para que as pessoas tentem, a cada ano, vivenciar um pouco mais de tempo no clima do Natal. Ao ser inquiridas sobre o assunto algumas são práticas, dizendo que a decoração natalina é cada vez mais elaborada e trabalhosa demais para permanecer por poucos dias. Outras admitem que esta é uma das fases mais esperadas do ano, lembrando valores que ficam esquecidos ao longo do ano, como paz, fraternidade, alegria e troca, família e luminosidade. E visual, sabor e cheiro únicos: luzes coloridas, delicioso cheiro dos pinheiros, panetones, roscas...
Mas os panetones, que antes apareciam em dezembro, anunciando a data, agora praticamente não saem das prateleiras dos supermercados durante  todo o ano. A decoração nas ruas e nas casas dura em média 3 meses. E os pinheiros naturais, com aquele cheiro gostoso, são cada vez mais raros, substituídos pelo pinheiro artificial.
Há quem afirme que tudo isso, mais do abandono de tradições que formam um "mix" de cristandade com crenças e folclore, está tirando da comemoração o seu melhor sabor.
TRADIÇÃO MUTANTE
A tradição no entanto vem mudando sempre e recebendo adaptações de acordo com fatores culturais, sociais, ambientais ou comerciais. Festa basicamente cristã, que teria surgido no ano de 336 em Roma, ficou marcada com o dia de São Nicolau, dizem algumas fontes em mérito do Papa Nicolau, no século IV. Ele costumava presentear os pobres nos dias 5 e 6 de dezembro (que foi considerado o Dia de São Nicolau, que "abre" as comemorações natalinas que culminam na véspera do dia 25)
As coisas mudam: a moda para espaços pequenos dos
apartamentos é a arvore de natal invertida...quem diria!
Seja como for, a cada fase a tradição ganhava algum adereço. Nicolau transformou-se em Papai-Noel e na metade do século XX , ganhou a rena com nariz vermelho, com a ampliação do comércio na data. 
O problema, neste inicio do Terceiro Milênio, é que o Natal está perdendo a sua mais preciosa característica, que é a confraternização entre as pessoas, dentro e fora da família. 
Tradições que mantinham esse elo estão desaparecendo. Como a reunião na Missa do Galo, a troca de cartões com mensagens, a remessa de pequenos presentes e lembranças, como frutos da época e doces, a pessoas conhecidas. 
Mais impessoal, a comunicação é feita virtualmente por aqueles que tem o hábito de navegar na Internet - uma minoria das pessoas. Os amigos trocam presentes de maneira mecânica, através de sorteios em amigos-secretos que no final das contas são sempre criticados ou já determinados antecipadamente. Em alguns lugares, como nos EUA, o "forte" da tradição no dia 25 é comida, jogos especiais e grandes promoções das lojas de departamentos!
Apesar de tudo, a ideia é vivenciar ao máximo uma data tão especial, que encerra a emoção que todos sentem necessidade de expressar sem receio. 
!

Wednesday, November 23, 2011

MUSICA PARA MEUS OUVIDOS

Quando algo é muito agradável, a língua popular costuma dizer que "soa como música em meus ouvidos". Ou será música para minha alma? Afinal, a música pode ser muito mais do que o som, ganhando espaços e modificando estruturalmente o ser humano, tanto em seu corpo físico, como mental e espiritual.
Rudimentar, hipnótica, relaxante, ascendente, elevando o pensamento ou pesada, como se aumentasse a força da gravidade, a música assume tantas formas diferentes quanto a natureza humana permite existir. Provavelmente não há período histórico sem a música, ainda que composta de grunhidos ou suspiros. A natureza, independente da civilização humana, sempre foi musical. Os pássaros, as baleias, o vento, tudo parece integrar a verdadeira sinfonia que inspirou o homem.
A musica clássica e eterna convive com estilos musicais temporários ou que se firmam na linha do tempo. O erudito parece eterno e parece não se incomodar em disputar os ouvidos que se entregam a heavy metal ou aché, ou gospel. A variedade de estilos musicais é impressionante! Para cada estado de espírito (e há muitos) existe a música correspondente.
Diga-me que música ouves e te direi quem és...Como não? Os velhos filósofos já sabiam disso. A música reflete a alma, os sonhos, o humor e o caráter. E também ajuda a formação do ser. A música é filosofia em fluidez. Vibra o espírito e movimenta os humores, para o bem ou para o mal. Depende de seus acordes. A música "fala" e convence mais do que a verbalização, pois encontra o âmago utilizando atalhos da emoção.
É preciso reconhecer o poder da música! (Mirna Monteiro)

LEIA TAMBÉM http://artemirna.blogspot.com/2006/07/arte-da-msica.html

Tuesday, November 22, 2011

O OLHO

Quando surgiram os primeiros reality shows nos EUA e alguns países europeus o mundo ficou surpreso. Por toda a história humana a discrição e a privacidade foram sinônimos de segurança.
Evitar expor-se significava preservar a vida, em muitas fases históricas, desde os primórdios da sociedade humana. Para evitar transformar-se em troféu de caça, objeto de rituais, mártir de revoluções, exemplo de submissão na obscuridade  da Inquisição ou na feroz batalha pela predominância do poder econômico e político.
Os shows que expõe a intimidade das pessoas parecem cumprir com uma espécie de preliminar na vida real da sociedade moderna. Aliás até mesmo o nome lembra a soturna revelação no romance de George Orwell nos anos 40 do século XX, o Big Brother ou Grande Irmão, onipresente na vida do cidadão.
Orwell, que usou esse pseudônimo ao invés de seu nome real, Eric Blair, estava decepcionado com os resultados práticos do socialismo e apavorado com a capacidade humana de escravizar as sociedades. No seu romance todos os cidadãos eram uniformizados e obrigados a pensar da mesma forma. Quem ousasse agir ou pensar diferente era considerado criminoso e portanto punido.
Até aí, nenhuma novidade. Desde o início da civilização humana o domínio da sociedade sempre foi a preocupação dos déspotas. Mas uma coisa interessante é que Orwell usou uma nova tecnologica da época, a televisão, como a representação do olho repressor e vigilante da sociedade, o Big Brother. De fato profetizou um sistema de absoluto poder, a Internet.
Mas certamente atirou no que viu e acertou o que não viu: a televisão transformou-se em um aparelho com câmeras, que aliado ao poder do ciberespaço transformou-se em poderoso olho dentro da intimidade doméstica.
O mundo virtual é um mundo a parte, subjetivo para a maioria das pessoas. É como uma extensão do pensamento, pois não tem corpo, nem consistência. Apenas ideia.
Um erro crasso de interpretação. O fato de ser virtual não significa que seja inócuo ao mundo real. Muito pelo contrário, é um poderoso canal de comunicação, que coloca a televisão inventada no século passado no chinelo, com todo seu potencial midiático!
O mundo virtual tornou-se o objeto de desejo da expectativa humana de comunicar-se sem intermediários e sem sofrer (teoricamente)  a manipulação dos fatos.
Mas como tudo tem dois lados, é também um prato cheio e desejado para domínio da massa.
Estamos preparados para abrir mão da privacidade que está enraizada no instinto humano como mecanismo de auto-preservação?
Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Quando entramos no mundo virtual não estamos apenas arriscando um encontro fortuito com hackers ou vírus, mas mantendo contato direto com "cookies" (que nome mais docinho) que sequestram informações pessoais. O mundo virtual é tão inseguro quanto o mundo real. Você pode sair de um site, desligar seu computador, mas o acesso às suas informações pessoais continua, ativo como cupins na madeira macia.
Talvez a alternativa seja abrir mão da privacidade prática, sem admitir o abuso. Informação no poder de alguns é pior do que ao alcance de todos. Seria a democratização do "Big Brother"! Uma verdadeira revolução no conceito de viver isolado, mas com o propósito de não ser comandado por um único olho.
De qualquer forma está aí lançado o desafio para a sociedade mundial decidir as regras, com leis claras e funcionais, da potência do virtual sobre a vida do cidadão comum. (Mirna Monteiro)


TEMAS CORRELATOS





Thursday, November 10, 2011

A SÍNDROME DE EVA

Quando Eva vivia no Paraiso ao lado de Adão, as coisas funcionavam maravilhosamente. Até que apareceu em cena uma serpente enroscada em uma macieira e todos sabemos o que aconteceu. Adão não era nenhum retardado quando provou o fruto proibido, mas a culpa coube a Eva. Era ela quem devia nortear Adão e, portanto, não deveria sugerir que abocanhassem o fruto proibido.
A mulher sempre foi responsabilizada por tudo desde o gênesis...
Mas a historia continua:
Desde a expulsão do Paraiso, as coisas ficaram difíceis. Adão e Eva resolveram dividir as tarefas, porque era a única forma de sobrevivência.
Ela sentia as dores do parto para povoar o mundo, ele corria atrás da caça.
Ela garantia a sobrevivência da prole a partir da raiz, ele defendia a família.
Ele se preocupava com coisas práticas. E ela continuava a exercer a antiga responsabilidade de nortear Adão.
A humanidade varou milênios, passou a marcar a passagem do tempo e o que aconteceu, desde o final do século XX, a Adão e Eva?
Boa pergunta!
Bem, Eva continua com duas mãos e dez dedos, mas em compensação está tendo de multiplicar a cabeça. Transformou-se em um ser muito diferente: para sobreviver, depende de visão periférica, de capacidades múltiplas e muita energia física e emocional, já que além de manter as responsabilidades da Eva tradicional, bíblica, assumiu todas as outras que cabiam à Adão.
E Adão? Adão está dividido: em parte mantém o seu antigo papel, em outra simplesmente nenhum.
Eva multiplicada, Adão dividido.
Situação polêmica, contraditória.
Eva acha que conquistou espaços e cresceu. Será?
Adão resmunga, preso ainda aos velhos preconceitos de milênios atrás. Parte dele achou um caminho intermediário e descobre que funções antigamente exercidas apenas pela mulher tem uma importância e um conteúdo interessantes. Mas a maior parte de Adão permanece exatamente como era.
Nunca foi tão difícil para a mulher exercer o seu papel de formadora da humanidade. Sim, porque é impossível negar a dimensão de sua ação no destino humano, mesmo que o poder de transformação tenha sido exercido entre quatro paredes.
Valores foram rompidos e a Eva de hoje, cada vez mais, não tem como dividir funções de sobrevivência.
Adão está confuso.
A vida de Eva complicou-se: ela acumula funções que eram de Adão. Como ninguém é de ferro e a Eva moderna não é um elástico que pode ser indefinidamente esticado sem estriar-se e romper-se, é preciso priorizar as ações. E isso leva à mudanças sociais profundas, a partir da família.
Quais as conseqüências dessa nova realidade?
A resposta pode não ser muito agradável.
A vida forma um conjunto perfeito, como uma orquestra, onde cada ser exerce um papel. Todos sabemos que mudar o curso de um rio ou devastar uma floresta pode ser perigoso para a sobrevivência humana.
A mulher sempre exerceu um papel mediador entre a realidade imediata e o futuro. Ao gerar e inteirar-se com sua cria ela determina não apenas o destino de um indivíduo, mas de toda a coletividade.
Uma sociedade pacífica e organizada não é responsabilidade só da mulher, mas quem vai negar que uma criança bem cuidada, amada e orientada, tem maiores chances de tornar-se um ser humano produtivo e equilibrado?
O que parece bem claro é que a mudança, para que esse equilibrio seja alcançado, depende de mais transformações. Por exemplo, a responsabilidade no gerar. Filhos são responsabilidade de ambos, pai e mãe. No entanto não podem crescer educados unicamente por terceiros, como se fossem orfãos, em troca de uma mentalidade excessivamente consumista. Hoje em dia não é incomum encontrar pais que se desdobram para ganhar dinheiro achando que a criança será feliz com roupas de grife, tecnologia de última geração e escolas particulares. Obviamente tudo isso parece ótimo, mas depende do preço a ser pago. O excesso de supérfluo não pode compensar a ausência de uma relação frequente entre pais e filhos.
Não é preciso andar com as crianças a tiracolo, como a cultura indígena determina (crianças que são amamentadas e próximas dos pais ficam mais fortes e mais independentes no futuro), mas sem dúvida é preciso rever a relação dos pais com os filhos na nossa sociedade moderna. O aspecto emocional do indivíduo, desde a gestação, é fundamental. Sem isso teremos crianças, adolescentes e adultos problemáticos, presas fáceis de drogas e da depressão. (Mirna Monteiro)