Wednesday, September 14, 2011

PEQUENOS E GRANDES PECADOS

Pecado de cá, pecado de lá! Todo mundo, sem exceção, passa por alguma situação em que resmunga "que pecado" ou coisa semelhante, mesmo que seja um ateu declarado e sacramentado...ou nem tanto. É que a palavra tem uma conotacão bíblica e há quem a acuse de instrumento de mera repressão. O que não parece corresponder a verdade, já que a palavra pecado ganhou no transcorrer da história uma conotacão ética, ainda que possa ser distorcida e abusada em sua interpretacão...
Pecado...essa palavra em grego significa algo assim como errar o alvo. Do ponto de vista bíblico é um ato de rebeldia contra as leis do Criador. Na nossa sociedade atual exemplifica atos que são contrários ao bem e isso não envolve necessariamente qualquer crença, mas necessidade de sobreviver. Nossas leis são baseadas na ética e moral, fundamentais para que haja convivência comunitária, mas também comercial. Em resumo, regras existem para permitir a sobrevivência comum e evitar o caos!
Mas a questão é a seguinte: pecados podem ser dimensionados em sua gravidade? Digamos que sua definição mais imparcial, a de que o pecado é o oposto da virtude, enquanto que a maior virtude é a sabedoria, seja  admitida, socráticamente. Nesse caso o pecado poderia ter gravidade variada, de acordo com a dimensão de seu dano, ou da ignorância do seu ato!
O que reduziria também, em uma ou outra circunstâncias, a virtude de quem imagina ser imune ao pecado...
No dia a dia alguns detalhes de acontecimentos corriqueiros - tão rotineiros que se não prestarmos atenção não os perceberemos- levam a um choque de interesses e, consequentemente, a um estado interessante da sabedoria versus pecado, ou da felicidade versus ignorância.
Exemplo? digamos que uma mulher esteja vendendo filmes pirateados, meio camuflada entre a multidão. Discretamente ela aborda uma ou outra pessoa. Bem discretamente, pois seu ato é ilícito, certo?
Bastante tentador o preço baixo. Um casal abordado hesita. "Estou louco para ver este filme aqui", diz o rapaz, já retirando o dinheiro do bolso. A namorada balança a cabeca :"Pirata, amor, deve ser cheio de defeitos!"... os três discutem a questão da legalidade daquele negócio.
Três visões diferentes de um mesmo problema: o rapaz, louco pelo filme a preço de banana; a namorada, hesitante e preocupada com a legalidade do negócio que dificulta a troca por defeitos eventuais no produto; a vendedora, que havia saído de casa as cinco horas da manhã e enfrentava a oitava hora de jejum, garantindo que não havia motivo para preocupação.
Três pecados diferentes. Ninguém aqui parece virtuoso! Quem está cometendo o pecado maior?
Questão de interpretação? Do ponto de vista legal o maior "pecador" ou infrator nem esta ai nessa cena: seria o autor do material clandestino, embora isso não suavize a ação de outros envolvidos!
Vamos a outro exemplo, este mais drástico: um assassino em série, estuprador e cruel, é preso e pouco tempo depois é encontrado morto em sua cela. A opinião pública se divide: o sujeito foi morto na prisão? Nesse caso ele merecia ou não a pena de morte improvisada? Quem cometeu o maior pecado, o assassino de mulheres ou o assassino do assassino de mulheres, que sobreviveria em um país onde a Justiça é relativamente branda com matadores?
Complicada, esta questão. Nietzsch abominava a idéia do pecado pois só conseguia entende-lo pelo ângulo doutrinário, através da concepção religiosa, que o enfurecia. Tanto que ele formalizou a sua interpretacão crítica dos valores morais defendidos pelo cristianismo, refutando o "ideal", mas esquecendo-se que, no final das contas, a amoralidade torna a sociedade incontrolável.
Ou seja, se Nietzsch vivesse neste terceiro milênio, defenderia a amoralidade quando algum bandido invadisse a sua casa e roubasse suas cuecas? Certamente pensaria mais sob a ética e repressão aos instintos animais que habitam o interior humano e que precisam de atenção para manter-se sob controle.
O que, na linha pessimista de Schopenhauer é absolutamente incontrolável. Para ele a vida humana é dominada por egoísmos rivais. A satisfação de um indivíduo necessariamente acarreta o sofrimento do outro.
Defendendo a ideia de que o egoismo é uma postura natural de um ser em relação a outro a interpretacão do pecado se transforma. O ser humano passa a ser um animal sem consciência ou apego a um semelhante desde que isso não seja fundamental no momento para a sua sobrevivência.
Ou seja, vocifera palavrões, aumenta o som apesar do horário que impõe silêncio, apodera-se de um bem alheio, usa cargos políticos para roubar e farta-se de pronunciar mentiras e falsas acusações para conturbar a ordem e confundir os que nada ou pouco sabem.
Quais dessas ações destrambelhadas que despertam a animalidade humana pela ausência de auto-crítica e ética, são mais nocivas e perigosas? 
Provavelmente nenhuma, sob o ponto de vista de motivação, ou seja, ausência da ética e respeito ao meio.  Ainda assim nos consolamos criando uma escala pessoal de valores, que tenta se encaixar nas regras que regem esse meio. Pecadinho e "pecadões". Crimes pequenininhos e crimes sem tamanho...
Muitos pontos de vista sao irritantes nestas questoes...pecados tornam-se maleaveis como material emborrachado! Verdade que quem rouba um quilo de feijao merece o perdão que aquele que rouba a carteira não merece! E que a corrupção tem lá suas variáveis. O problema é que o dinheiro paga o perdão de forma direta ou indireta, tornando a punição de grandes pecados uma ficção moderna. Mas são esses grandes e poderosos pecados que se escondem sob a capa da invulnerabilidade, aqueles que destroem a ética, estimulam a violência e provocam o caos social. (Mirna Monteiro)

Thursday, September 08, 2011

A INTOLERÂNCIA COMO AUTO-AGRESSÃO

Há pouco mais de um ano o mundo surpreendeu-se com a ação de Israel ao expulsar a pacifista Mairead Corrigan Maguire, premio Nobel da Paz, que trabalhava para ajudar os palestinos isolados na Faixa de Gaza. A ação não apenas espantou pessoas de todos os países, mas resumiu tudo aquilo que mais ameaça o mundo atual: a incapacidade de entender que o direito de soberania de um país caminha juntamente com  o direito do indivíduo e que não existe mais uma ação isolada que não repercuta política e economicamente com o restante do mundo.


Por isso temos leis internacionais, baseadas em direitos universais e insofismáveis. Questão de sobrevivência do planeta! Hoje a dependência entre os países impõe uma política integrada.
Maguire é uma pacifista. Como é possível exercer a intolerância sobre alguém que defende a paz? Isso nos lembra a repetição histórica de atos obscuros e intolerantes, que pretendiam diminuir o contato das pessoas com o mundo e o conhecimento. Giordano Bruno foi queimado vivo na Idade Média porque percebeu que o universo é infinito em transformação contínua, o que contrariava as verdades estabelecidas na época.

O próprio Sócrates, como relata Platão, foi condenado pelo poder político por opor-se às idéias dos dirigentes. Não concordava em cultuar personalidades ou divindades, porque não tinha cabimento o conhecimento ou o poder divino ser de posse de algum grupo, fosse político ou religioso! Deus e o conhecimento não poderiam ser privilégio de ninguém, pela própria condição de imanentes!
Pessoas não são produto e não podem ter proprietários. Portanto o indivíduo, esteja onde estiver, é livre, limitado pelo igual direito do semelhante. Não há cultura que possa anular essa condição. Israel dificultou o contato da ajuda humanitária e dos palestinos isolados na faixa de Gaza e essa é uma forma de autoritarismo sobre essa população. O fato de insistir em desafiar leis internacionais também é contrário à necessidade de equilibrar o meio e demonstrar na prática a intenção de inteirar-se ao mundo e respeitar a vida.
A crítica a mentalidade do " salve-se quem puder" e da pilhagem feita entre os destroços de guerras é uma determinante para o ambiente que teremos no futuro.
Como exemplo podemos citar o fato do mundo passar por grandes problemas - como a crise econômica que assola países europeus e os EUA, o que não justifica a tomada de ações que prejudiquem parte do globo.  Como negativas à adoção de medidas contentoras da poluição ambiental e outras ações que coloquem em risco a saúde do planeta. Essa é também uma forma de intolerância à realidade, pressupondo a possibilidade de sobreviver em qualquer circunstância. 
A intolerância é inimiga do convívio, renega o contato, a troca de informações para o desenvolvimento humano e é absolutamente isolante: separa da realidade aqueles que a exercem! E assim como nos tempos do obscurantismo, prejudicam o meio e atrasam a evolução da vida