Monday, April 25, 2011

NEM TUDO É ARTE... É?

Exposição na Bienal de São Paulo
Há sempre discussões e desacordos a respeito do que poderia ser considerado arte, em uma referência à extrema "elasticidade" de interpretacão. A arte até o início do século XX estava bem definida. Mas movimentos que buscavam inserir-se nas mudanças do ambiente urbano e na maneira de pensar mais livre, liberando-se do peso dos conceitos tradicionais, começaram a ser definidos em meados de 1800.
Nesse período a arte começou a ter a tal "elasticidade", profundamente influenciada pelo desenvolvimento industrial e o mercado mundial, com o livre comércio. Ampliou-se o seu conceito. A dança podia dispensar as sapatilhas e fluir em movimentos aleatórios sem prejuízo da sua beleza. Da mesma forma a música começou a diversificar-se, assim como o teatro, que foi ganhando maior conotação mundana, maior realismo e crueza, com palavreado popular. Ao longo das primeiras décadas do século XX as artes plásticas causaram ferrenhas discussões sobre a validade de algumas criações. Como latas da  sopa americana campbel, que sairam da cozinha para exposição em museus..."Arte é tudo aquilo que o artista afirme ser arte"arriscou-se a afirmar Marcel Duchamp, que sobressaiu-se na defesa da arte moderna.

Sob esse ponto de vista se espetarmos uma mosca em um palito e o palito em um monte de argila, teremos  uma forma de arte, ou seja, uma maneira de expressar algo que é captado por quem observa!
Assim tudo é arte! Uma cuspida em uma tela em branco, uma orelha colada no nariz, uns cem metros de tecido formando labirintos em um canto do saguão...
Caravaggio, impressionante em sua tela retratando Narciso
Por outro lado um museu pode exibir  uma tela onde uma pintura parece ter vida ou um tipo de expressão no olhar que parece vasculhar a nossa alma...
Ou podemos observar uma escultura como a de Moises, que é tão perfeita que dá para estudar anatomia ou o sistema circulatório nas veias que se sobressaem  na pele de mármore! Esse tipo de arte exigiu do artista uma profunda sensibilidade a respeito do elemento humano e sua expressividade, mas também uma técnica excepcional, de mãos mágicas que não apenas imitam a natureza humana, como a sublimam.
A arte fala diferentes linguagens. Uma foto pode congelar um momento vulgar, mas com tamanha expressão que o torna único. Um artista pode surpreender-se com a fidelidade de sua obra, a ponto de encanta-lo. Michelangelo reconheceu que ao seu "Moisés" faltava apenas uma coisa : "Perchè non parli?" (Porque não fala?) ...Fala Moisés!. O artista, autor das incríveis pinturas na abóbada da Capela Sistina, enganou-se: não faltava nada a sua escultura! Uma obra de arte que atinge quem a observa "fala" em uma língua universal. Ele próprio, Michelangelo, dizia que de todas as artes, a escultura era a mais próxima de Deus. Freud, um admirador confesso desse grande artista, concluiu que criações de arte são incompreensíveis e constituem verdadeiros enigmas! Mas ele reconhecia na formas de "Moisés" uma força que o hipnotizava e o levou a frequentar assiduamente a igreja San Pietro in Vincoli.

A "modernização" da arte trouxe resultados interessantes, que acompanhavam a crescente agitação cultural e a mudança na relação entre as pessoas e o meio, seus questionamentos  e a necessidade de  sentir-se emancipadas em seus valores.

Joan Miró , que através do surrealismo criou uma linguagem
artística  muito pessoal e  rica em questionamentos
Anita Malfatti criou um estilo diferente, originado do
expressionismo, fauvismo e cubismo
No Brasil, em 1922, quando foi realizada a Semana da Arte Moderna, no rastro das inovações da arte na França e em outros paises europeus, as novas formas de expressão e linguagem não foram entendidas  unanimamentes. Pelo contrário, choveram mais críticas do que elogios. No entanto artistas dessa fase considerada estranha por muitos tornaram-se ícones de expressão artistica décadas depois.
As mudanças de expressão continuaram ao longo dos últimos quase noventa anos, desde a Semana da Arte Moderna. Para alguns, as inovações da linguagem artística "perderam a medida", deixando de comunicar idéias e sentimentos coletivos, para expressar-se individualmente e de um ponto de vista único, talvez narcisista na ansiedade de destacar-se na multidão sempre crescente, talvez comercial em demasia, quebrando a fluidez necessária entre o artista e sua obra e o mundo ao redor.
Na Bienal da Austrália
É o caso das artes expostas nas Bienais, exposições onde a idéia da vanguarda parece prevalecer sobre a riqueza da criação artística. Nelas encontramos mostras estranhas, como um cão preso a duas coleiras, um espaço coberto de azulejos e mais nada ou um quadro negro sobre montes de pó de giz, na linha adotada por Duchamp.
O que se observa é uma necessidade do artista em explorar o cotidiano, sua rotina e mazelas e a extrema dependência do mundo manufaturado, que de certa forma reduz o fator humano a uma engrenagem.
Outro aspecto dessa tendência é a crítica ao sistema e ao conflito entre o pragmatismo da vida atual e a necessidade da manutenção de valores, que estão se esvaindo no cotidiano das relações humanas. Considerando a grande confusão dessa temática, é possível entender a enorme diferença entre as expressões da arte ao longo dos séculos passados, meticulosa e focada no homem e na natureza, e a atual,  dispersa em um mundo de imagens fictícias e opressivas.
A questão provavelmente envolve  fato de que o conceito da arte é tão pessoal e diverso quanto quem vai observar e captar o seu sentido. Há produtos da arte que emocionam e tornam-se permanentes, enquanto outros podem ser tão descartáveis como o modo de viver atual, pois representam exatamente essa fragilidade do sistema. O que importa realmente, é que a arte aconteça, permanente ou provisória, como um retrato da vida em seus ângulos e diferentes aspectos. (Mirna Monteiro)
sionista

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